quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

.não tens idade para joy division.

Quem acha que tem um bom gosto musical, põe na cabeça que tem uma missão, vinda bem lá do alto da sua prepotência: converter todos aqueles que ouvem "coisas duvidosas".  Sei bem do que falo porque sou um pouco assim. Fiz de uma amiga minha, o meu alvo predilecto mas surpreendentemente não noto da parte dela qualquer resistência aos meus avanços de "melhoramento" musical. Assim, convenço-me que estou a fazer serviço público.

"Onde é que vais buscar todas estas coisas estranhas que ouves?" Sim, ela apelida as minhas predilecções musicais de estranhas. Eu gosto de pensar que são diferentes. Quem me ler dirá que são normais. Em resposta digo que muito se deve à Internet mas eu não sou produto da era tecnológica. Ainda sou do tempo (ahh maldita publicidade!) em que não existiam telemóveis, nem msn ou myspace (nessa altura quando se marcava alguma coisa com alguém, a probabilidade dessa pessoa aparecer era infinitamente maior do que é hoje!). Tendo dito isto secalhar será apropriado dizer-se que também não existiam dinossauros e que não acabei agora mesmo de descobrir a maravilha virtual. Se bem que na altura em que a descobri de facto, a Internet era apenas e só uma forma de comunicar com os amigos (saudoso mirc!). Contudo, e apesar de não poder negar a minha fase de pop pastilha elástica, com muitas boysband à mistura, acabei por conseguir ter um gosto musical à margem dos que me rodeavam. Bom por um lado porque me sentia diferente mas nessa diferença, sentia alguma falta de alguém igual a mim (contradições à parte). 

Não tendo a fantástica Internet, tinha uma vizinha que morava no prédio ao lado. Era uma rapariga mais velha que eu admirava imenso. Emprestava-me cassetes que tinham gravadas nas suas fitas coisas como Radiohead ou Nirvana. Podia não perceber de facto o âmago das letras e todos os ambientes que estas sugeriam mas sabia que mais tarde ia perceber. E ela não parecia importar-se com essa minha audição vazia até que um dia, ao olhar para a estante repleta de cassetes, li Joy Division e perguntei quem eram. A resposta dela foi segura: "Não tens idade para Joy Division!". Não toquei mais no assunto mas mais tarde quando finalmente os ouvi, percebi a razão daquela resposta. No que toca a Ian Curtis e aos seus,simplesmente não podia haver essa distância entre o meu ouvido nada amadurecido e a epifania vinda num dia insuspeito, tomando-me de assalto. É para ouvir e depois tentar decidir o que fazer a seguir, sabendo aquilo tudo (apesar de Radiohead e Nirvana terem os seus quês).


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